A Human Rights Watch (HRW) disse quarta-feira que as forças de segurança de El Salvador estão a cometer abusos generalizados dos direitos humanos desde a adopção do estado de emergência contra a violência dos gangues em Março deste ano.
Um relatório divulgado quarta-feira com a organização salvadorenha de direitos humanos Cristosal documenta detenções e torturas arbitrárias em massa, bem como mortes sob custódia e desaparecimentos forçados.
«As forças de segurança salvadorenhas maltrataram comunidades vulneráveis com violações generalizadas dos direitos humanos em nome da segurança pública», disse Juanita Goebertus, directora da HRW Americas.
«Para pôr fim à violência dos bandos e às violações dos direitos humanos, o governo de El Salvador deve substituir o estado de emergência por uma política de segurança eficaz, respeitadora dos direitos, que dê aos salvadorenhos a segurança que tão ricamente merecem», acrescentou o director regional da ONG.
Também criticaram o facto de o presidente do país, Nayib Bukele, ter apoiado publicamente as forças de segurança, promovendo «retórica desumanizante contra os detidos e as suas famílias».
Salientaram também que existem razões para questionar a eficácia destas medidas, uma vez que os gangues beneficiaram no passado de encarceramento em massa para recrutar novos membros.
HRW e Cristosal entrevistaram mais de 1.100 pessoas, incluindo vítimas de abuso, familiares, advogados, testemunhas e funcionários do governo.
Com esta documentação, as organizações descobriram que agentes têm cometido violações semelhantes repetidamente em diferentes partes do país.
Em muitos casos, as detenções parecem basear-se na aparência e na origem social dos detidos, por vezes sem mandados ou mandados de captura.
Além disso, a ONG acusa as autoridades salvadorenhas de cometerem desaparecimentos forçados ao abrigo do direito internacional, uma vez que relataram numerosos casos em que agentes se recusaram a fornecer informações sobre o paradeiro dos detidos.
SUPERPOBLATION IN JAILS A polícia e os soldados realizaram centenas de ataques, particularmente em bairros de baixos rendimentos, desde que o estado de emergência foi adoptado. As autoridades prenderam mais de 58.000 pessoas, das quais mais de 1.600 foram crianças.
Como resultado, a população prisional aumentou em nove meses de 39.000 para 95.000 pessoas, mais do triplo da capacidade oficial, criticam as organizações de direitos humanos.
Neste contexto, pelo menos 90 pessoas morreram sob custódia policial em circunstâncias que ainda não foram investigadas.
CHAMADA INTERNACIONAL Portanto, HRW e Cristasol exortaram as autoridades do país a tomar medidas respeitadoras dos direitos para desmantelar os bandos e proteger a população.
Nesta linha, as organizações apelaram aos Estados Unidos e à União Europeia, bem como aos governos da América Latina, para que gerassem uma pressão multilateral.
«A comunidade internacional deve redobrar os seus esforços para ajudar a garantir que os salvadorenhos estejam a salvo de crimes hediondos de gangs, violações dos direitos humanos pelas forças de segurança e outros abusos de poder», acrescentou Goebertus.
Além disso, pediram às instituições financeiras que suspendessem os empréstimos que beneficiam as agências governamentais envolvidas nestes abusos, tais como a Polícia Nacional, as Forças Armadas, o Ministério Público e o sistema penitenciário.