A Polícia Federal brasileira desmantelou na quarta-feira uma organização criminosa que planeava raptar, extorquir e até assassinar funcionários e funcionários públicos, incluindo o ex-ministro da justiça Jair Bolsonaro e o actual senador Sergio Moro.
Como parte da chamada «Operação Hijacker», a polícia enviou 120 agentes para executar cerca de 20 mandados de captura no Distrito Federal e em quatro outros estados, Roraima, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Pelo menos nove pessoas foram presas, seis das quais na cidade de Campinas, em São Paulo.
O grupo criminoso por detrás destas ameaças à segurança de vários funcionários do Estado é conhecido como o Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com a investigação, Moro, que tinha sido informado do perigo, tinha estado sob vigilância deste grupo desde Janeiro.
Depois de ter tomado conhecimento da operação policial, Moro levou à sua comunicação social para agradecer às autoridades, bem como ao Congresso, por lhe proporcionar segurança pessoal e à sua família. O ex-ministro da justiça disse que fará uma declaração mais detalhada mais tarde, na quarta-feira.
Esta organização operava tanto dentro como fora das prisões brasileiras. O rapto e possível assassinato de Moro seria uma retaliação pela sua decisão de transferir os líderes deste bando, entre eles Marcos Herbas Camacho, vulgo ‘Marcola’, das prisões estaduais para as prisões federais de segurança máxima.
Ao longo do seu tempo no governo de Bolsonaro, Moro defendeu este tipo de acção para isolar estes prisioneiros das suas organizações. No total, 113 criminosos foram transferidos de prisões no Pará, São Paulo, Ceará e Amazonas para prisões de segurança máxima no Distrito Federal.
Para além da Moro, a investigação indicou que outro alvo era o procurador de São Paulo, Lincoln Gayika, que trabalha para um grupo especial contra o crime organizado no Ministério Público, relata ‘O Globo’.
A investigação suspeita que os ataques, que têm sido planeados desde o ano passado, foram realizados simultaneamente em retaliação às últimas medidas contra o crime organizado e a uma restrição às visitas a prisões federais imposta pela administração anterior.
O rapto de Moro, que tem assento no Senado da União Brasil, terá servido como forma de pressão para assegurar a libertação de «Marcola», um dos maiores traficantes de droga da América Latina e condenado a mais de 230 anos de prisão por vários crimes, incluindo homicídio, tráfico de droga e terrorismo.
Do governo, o Ministro da Justiça, Flávio Dino, que ao longo do dia confirmou que entre os alvos desta organização se encontrava «um senador» e «promotor de Justiça», rejeitou as tentativas de parte da oposição, incluindo Flávio Bolsonaro, de politizar a operação policial.
É vil, frívolo e pouco razoável ligar estes acontecimentos à política brasileira. Estou verdadeiramente espantado com o nível de cinismo daqueles que tentam politizar uma «investigação séria», condenou Dino, que recordou que a operação foi levada a cabo em defesa de um senador que se opõe ao governo.
Alguns na oposição, como o deputado federal Deltan Dallagnol, usaram uma frase de uma entrevista com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, retirada do contexto, para sugerir que havia uma alegada ligação entre o novo governo e as tentativas de sequestro de Moro.
Chocados, indignados e motivados para combater ainda mais o crime. A minha total solidariedade para com Sergio Moro e a sua família, gente honrada que quer e luta por um Brasil melhor. Os criminosos querem vingança. Eles querem ‘foder’ Sergio Moro’,’ disse Dallagnol, parafraseando uma declaração de Lula.
Numa entrevista na terça-feira para o portal de notícias Brasil 247, Lula disse que quando estava na prisão e os advogados se aproximaram dele para perguntar se estava bem, ele costumava responder que só estaria bem quando «fodesse» Moro.
Não se pode tomar uma declaração de forma isolada e literal e ligá-la a uma investigação que se arrasta há meses, na qual o nosso governo e a Polícia Federal têm agido de forma técnica e independente, cumprindo a lei e alcançando um sucesso extraordinário», salientou Dino.
Estamos a assistir a uma narrativa escandalosamente falsa sobre os meios de comunicação social, segundo a qual existe uma ligação entre as declarações do presidente e estes planos. Isto é um disparate (…) todas as declarações críticas relativas às acções do então juiz Sergio Moro (…) não impedem a Polícia Federal de proteger, em conformidade com a lei, uma pessoa crítica em relação ao governo», observou ele.
A acção a que Dino se refere são as suspeitas que pesam sobre Sergio Moro pelas suas acções como juiz no caso que levou à prisão de Lula da Silva, e que foi subsequentemente anulada pelo Supremo Tribunal com base no facto de ele ter agido com parcialidade, incorrendo em negligência profissional, durante o processo judicial.
Fonte: (EUROPA PRESS)