O Ruanda acusou na quinta-feira a República Democrática do Congo (RDC) de «sabotar» os acordos de paz assinados em Luanda (Angola) com o objectivo de «prolongar a crise e perpetuar a insegurança na província do Kivu do Norte, no leste do país».
«Os países vizinhos da República Democrática do Congo e da região dos Grandes Lagos como um todo não podem dar-se ao luxo de deixar falhar estas novas iniciativas de paz. Os nossos cidadãos merecem melhor», disse o porta-voz do governo numa declaração, como relatado pela agência noticiosa ruandesa.
Também acusou a RDC de estar por trás dos protestos organizados contra a força regional da Comunidade da África Oriental (EAC) em Goma e noutras partes do país, numa tentativa, segundo o Ruanda, de se retirar dos acordos de paz de Nairobi e Luanda.
De acordo com o governo ruandês, estas manifestações, que se realizaram na véspera, também parecem ter como objectivo a saída da EAC da região. Em resposta a estes protestos, o porta-voz do governo congolês Patrick Muyaya exortou à calma após uma reunião de segurança em Kinshasa, informou a Rádio Okapi.
No entanto, o Ruanda apelou às autoridades da RDC para «pôr fim a todo o apoio político e militar à milícia genocida, as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR) – um grupo rebelde armado fundado e composto principalmente por Hutus responsáveis pelo genocídio de 1994 no Ruanda – e outros grupos armados ilegais».
«Além disso, o recrutamento de mercenários estrangeiros pela RDC é uma indicação clara de que o governo congolês está a preparar-se para a guerra e não para a paz», disse o lado ruandês, referindo-se ao possível envolvimento no conflito de mercenários do Grupo Wagner.
Estas declarações vêm depois do presidente da RDC, Felix Tshisekedi, dizer na quarta-feira que o Ruanda é responsável pela «insegurança na região dos Grandes Lagos» e criticar Kigali pelo seu apoio ao grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23).
«O problema da insegurança hoje em dia na região dos Grandes Lagos chama-se Ruanda», disse ele no Fórum de Davos, ao mesmo tempo que aludia a «certos vizinhos beligerantes» que «tornam difícil» estabilizar a situação na região.
Acusou a M23 de não completar a sua retirada nas zonas da região do Kivu Norte (leste) que assumiu nos últimos meses, apesar do acordo sobre um «roteiro» acordado na capital angolana, Luanda, entre a RDC e o Ruanda, de acordo com o portal de notícias congolês Actualité.
As observações do presidente congolês vieram depois de os meios de comunicação locais terem noticiado que a M23 se tinha retirado na segunda-feira de Nyamilima, localizada no Kivu Norte, quase dez dias após a tempestade ali ocorrida.
O M23 é acusado desde Novembro de 2021 de realizar ataques contra posições do exército no Kivu do Norte, apesar de as autoridades congolesas e o M23 terem assinado um acordo de paz em Dezembro de 2013 na sequência de combates desde 2012 com o exército, que foi apoiado pelas tropas da ONU.
A situação conduziu a um aumento das tensões entre a RDC e o Ruanda, uma vez que Kinshasa acusa Kigali de apoiar os rebeldes. Kigali, por seu lado, denuncia o apoio de Kinshasa às Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), fundadas e compostas principalmente por Hutus responsáveis pelo genocídio de 1994 no Ruanda.
Fonte: (EUROPA PRESS)